sábado, 18 de abril de 2009

o olhar da criança

Demorei de vir aqui, mas não deixei de ficar na sombra. E uma das situações que vivenciei recentemente foi num salão de beleza, quando eu aguardava a minha vez de encarar a tesoura. Enquanto eu estava lendo uma revista, notei que a criança que cortava o cabelo olhava fixamente para mim. No início, eu retribuí ao olhar com um sorriso, fiz uma gracinha e voltei a folhear as fotos de celebridade. Mas ela continuou.

O engraçado é que, na mesma semana, no ônibus, um gurizinho estava sentado à minha frente, no colo da mãe, e se pôs a me fitar. Ele me olhava bem no fundo e aquilo começou a me intrigar... Então eu me dei conta de uma coisa: já percebeu como as crianças ficam olhando para você fixamente nas mais diversas situações?

Acabei pensando que eu, muito possivelmente, já tenha feito o mesmo com muitas pessoas. Mas com o passar do tempo, a gente vai cada vez mais se afastando do olho-no-olho. E por quê?

Como forma de descobrir, tentei manter meus olhos fixos aos da criança. Contudo, em seguida, comecei a rir sozinha, sem conseguir sustentar aquele "lugar", pensando no que estava por detrás daquela ação.

Ao longo desses anos, sempre tentei despertar em mim a curiosidade pueril acerca da vida, do mundo e das pessoas, daquilo que é peculiar a todos nós; porém, é inevitável que acabemos por aprender a nos afastar desses posicionamentos. Talvez seja uma marca ritualística de uma passagem temporal para a idade adulta. Outras responsabilidades caem sobre nós e parece ser importante transmitir seriedade e competência.

Além disso, quando a gente mora numa cidade grande, aprende-se a olhar cegamente para os outros, como forma de ser somente alguém que passa, que cruza e - quem sabe? - lhe dá um bom dia. Não há sobrenomes ou como vai você, mas, no entanto, semeia-se o medo e a insegurança em meio a tantas atrocidades promovidas pela nossa contraditória civilização.

Isso quer dizer que crescer e amadurecer é aprender a lidar com o olhar do outro e tudo aquilo que ele pode lhe despertar, do amor ao pavor. Mas, felizmente, sempre haverá a criança ou alguém ali a lhe olhar fixamente, com a coragem que lhe é própria, de modo a nos provocar em segredo uma pergunta sobre nada e, ao mesmo tempo, sobre tudo. Sobre quem nós somos e quem nos tornamos. Talvez até sem querer respostas. Talvez somente procurando reconhecer o olhar e a sutil lembrança de quem um dia também já foi ou ainda queira ser criança.

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

estou de volta.

Peço desculpas pela longa ausência. Mas tive de me afastar por conta de um problema ortopédico no ombro e meu computador quebrado...

Agradeço a atenção de todos durante esse tempo!

Estou de volta!