terça-feira, 18 de maio de 2010

Ai, meu Deus, eles querem me alienar!


Parodiando a personagem shakespeareana: "televisão: ver ou não ver, eis a questão"!

Eu não sei o que é pior; se é viver no mundo alheio às notícias ou ouvi-las nos telejornais acompanhadas de opiniões estapafúrdias! Só sei de uma coisa sobre as posições: ambas alienam!

Hoje pela manhã assistindo um jornal na TV, vi a notícia de uma morte trágica ocorrida ontem aqui em Salvador. Um homem morreu atropelado por um ônibus, cujo acidente foi causado por ele próprio ao se jogar na frente do veículo. De acordo com as informações e entrevistas colhidas, ele sofria de transtorno mental há longo prazo. Segundo um familiar: "Ele fazia tratamento psiquiátrico, tomava remédio e tudo... Era esquizofrênico, [sendo até] diagnosticado por um médico da universidade!"

Após essa edição parcial sobre a questão, em seguida, a apresentadora comenta mais ou menos assim: Que muita gente discorda e não gosta de falar no assunto, mas isso tudo seria falta da crença em Deus. Que era preciso repensar a Reforma Psiquiátrica, porque desse jeito não dava. E que ela entendia que existia muito preconceito acerca do assuntos "mentais" etc., mas coitada dessa família que teria de conviver com a culpa e o sofrimento de não ter conseguido segurá-lo em casa!

Imediatamente eu enviei um e-mail ao programa contestando a posição da apresentadora, colocando que, inclusive, coincidentemente, hoje é Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Há 23 anos, em 18 de maio de 1987, ocorria a Primeira Conferência Nacional de Saúde Mental, a qual propôs uma reforma no modelo de assistência a portadores de transtornos mentais, com atendimento extramuros hospitalares, com a tentativa de inclusão social e familiar, privilegiando os direitos sociais e sua cidadania. Mas não foi incluso na pauta. Por quê?

Falar de tragédia todo mundo quer, até porque rende assunto e a gente pode sair acusando livremente quem bem queremos; de políticos a funcionários públicos, de reformadores (revolucionários) sociais às "famílias desestruturadas" pelas mazelas cotidianas! Blá, blá, blá.

Ora, é papel da imprensa colaborar com essas discussões necessárias à sociedade, porém, de modo que possamos repensar nossas práticas sociais de inclusão, evitando as discriminações sociais e os rótulos negativos que muitos detêm. Sobretudo, evitando reforçar tachativamente as doenças e formas diferentes de existência...

E quando eu pensava que acabava por aí, segue-se outra notícia. A de que a Prefeitura Municipal de Salvador lançou o cartão municipal de saúde, buscando facilitar e melhor controlar o acesso aos atuais dispositivos existentes - marcação de consultas, controle de vacinação, dispensação de medicamentos etc. O prefeito João Henrique foi o primeiro a se inscrever no programa. E justifica em entrevista: "Essa é uma maneira de ampliar o acesso àqueles que não podem pagar um plano de saúde privado"!

Como assim? Que distorção é essa! Ele não fez mais do que tentar cumprir um dever. A saúde é um direito constitucional que deve ser garantido pelo estado. Isto é, uma vez que não se tem garantido a todos, os planos privados é que são complementares para quem pode pagar... Mas o prefeito parece querer me convencer do contrário!

Ai, meu Deus, eles querem me alienar! Sem evitar o tema e o trocadilho com o dia de hoje, essa sociedade é que nos deixa assim, mas eu não quero e nem permito. E quanto mais lúcida, mais louca eu fico...




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