segunda-feira, 12 de julho de 2010

A massa crê no massacre.


Conversando com amigos, falávamos da proliferação de abusos musicais e culturais que se propagam via rádios, tvs e milhares de mptrês, quatro ou dez no mundo afora... Sem falar nas caixas de som automotivas que ecoam pela cidade, apesar das leis. Não queríamos ser nostálgicos, mas discutíamos que - praticamente - estamos sendo obrigados a gostar da pasta empurrada goela abaixo pela nossa indústria cultural.

Não bastasse sairmos de saia, na bicicletinha, com uma mão no guidão e outra na calcinha, dançando o rebolation e clamando por ei, psiu, beijos, me liga como um meteoro da paixão, temos sido obrigados a conviver com os sons ensurdecedores que massificam uma programação musical de escolha duvidosa (o famoso "jabá")! Eu, por exemplo, já não aguento mais ouvir pá-rá-rá na voz de Silvano Sales, mas sou obrigada, pois entra forçadamente pela minha janela...

Diante de tantas liberdades de expressões culturais, afinal, onde está a criatividade melódica e poética que tanto caracteriza(va) nossa música brasileira?

Por isso, para além de criticar a forma e o conteúdo, quero questionar para onde vai a nossa cultura musical. É este mesmo o nosso retrato? Importaremos a redução mundial ao pop e suas variações: pop-rock; pop-axé; pop-reggae; sertanejo pop? (Lembrei de um vídeo muito divertido e ilustrativo sobre esta questão: Four Chords - legendado).

É claro que temos uma oferta diversificada e bastante interessante. Só que em relação à grande massa - onde, de certa forma, estamos todos incluídos -, inexoravelmente chegaremos ao mais do mesmo. Produzindo ídolos bonitinhos, com suas golas V, de corpos bombados e hipertatuados, tentando quem sabe disfarçar o esvaziamento de suas musicalidades criativas, ao passo em que evitam brincadeiras sonoras que poderiam de fato nos levar à arte de verdadeira criação e produção.

E é brincando com as palavras que concluo com uma triste constatação: a massa crê no massacre. Eu é que me recuso.


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