sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Corrida do Ouro.

Esta reflexão vem a pedidos, após uma conversa bastante legal com um amigo. Foram muitas as filosofias de botequim sobre as reviravoltas profissionais que acontecem no mundo de hoje. Um dos assuntos que geram boas discussões nas rodas que frequento é falar acerca de concursos públicos. Há pessoas que já levam o adjetivo "concurseiro" no sobrenome. Quase todo mundo já fez ou fará um concurso na vida.

É claro que, indiscutivelmente, as pessoas querem aumentar sua qualidade de vida, principalmente se for aliada a um melhor salário e, quem sabe, melhores condições de trabalho. Pensar na estabilidade deixa a gente mais seguro e confortável, mas será que deixa a gente mais feliz?

Fico pensando sobre por que as pessoas passam cinco, seis anos estudando em um curso que escolheram para si e, em parte dos casos, ao passar num concurso, vai fazer algo diferente da sua profissão, passando algumas horas do dia em serviços meramente burocráticos, ou mesmo assumindo responsabilidades extremamente estressantes, tudo em nome de algo maior e melhor: as cifras no final do mês, a possibilidade de comprar tudo o que quer, mesmo que nem dê tempo para curtir. As pessoas te perguntam num paradoxal olhar de companheirismo e de concorrência: "E aí, vai fazer tal concurso?". É a versão pós-moderna da Corrida do Ouro...

"Selvas, montanhas e rios estão transidos de pasmo.
É que avançam, terra adentro, os homens alucinados.
E gerações e mais gerações de netos afundariam nesse abismo:
Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados,
os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos."
Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência

Quando eu respondo que não, porque não tem vaga para a minha profissão ou porque a função a ser desenvolvida não me interessa, aparecem as melhores justificativas e argumentações para me convencerem. Pois para muita gente isso não importa. O que importa é que vai ganhar mais e, quem sabe?, vai trabalhar menos! E, enquanto não passa nessa ou noutra vaga profissional de cinco dígitos, vai vivendo e fazendo concurso. Um atrás do outro.

Não se trata aqui de negar a busca pelo sonho de melhorar a vida, mas sim, de não vivê-la somente em nome de uma ambição desmedida. Ora, eu passei tanto tempo estudando e me formando para quê, senão para trabalhar naquilo que escolhi? Conheço pessoas que já perderam (ou venderam?) a sua identidade profissional! Em face de quê?

Eu tenho um amigo que se sente um excluído social porque não faz concurso público. E eu só não compartilho totalmente com ele porque, por exemplo, sou concursada... Contudo, justifico que, embora inserida em realidades difíceis e longes dos cargos, funções e salários idealizados, felizmente, eu trabalho em minha profissão. Sim, eu não ganho o quanto gostaria, mas faço o que gosto e o que escolhi para mim. É algo que dá melhor sentido ao meu trabalho e à minha vida.

Na verdade, escrevo essas abobrinhas todas no intuito de colaborar para que possamos fazer sempre as melhores escolhas. No âmbito do trabalho, se ela for atrelada a um bom salário, ora!, melhor ainda. No entanto, é preciso cuidado para não ser proxeneta da sua profissão, do seu trabalho, do seu emprego, da sua informação, do seu conhecimento e de sua felicidade. Pois o final é cliché: nem tudo o dinheiro pode comprar.


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