segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sim, o nordestino também pode!


Todo nordestino que tem e-mail deve ter recebido mensagens divulgando o movimento contra a xenofobia pós-eleição que tomou conta do ciberespaço brasileiro na semana que passou, diante da expressão dos votos para presidente mapeados em nosso território.

Eu, como baiana e nordestina, fiquei indignada com as palavras nefastas que li de tantos twitteiros! Respirei fundo, contei até dez, até cem... sem, no entanto, querer esquecer ou apagar as frases que ecoavam dentro de mim. E me pus a refletir sobre as razões e as repercussões dessas atitudes repugnantes, que algumas massas acabam por reproduzir diante de questões adversas à própria vontade.

Penso que o brasileiro em geral aprendeu - junto com os políticos que os representa - que quando não há argumentos, apela-se à destruição moral da outra parte... Por isso, venho aqui descerrar alguns pontos, de modo a construir um diálogo, evitando o maniqueísmo e o ódio polarizado que nos toma em horas assim.

Primeiro, pensei por que xenofobia? Desconfiada do termo, fui ao Houaiss e lá confirmei: "desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país". Etimologicamente, tem origem grega: xénos = estrangeiro; phóbos = temor.

Acaso somos tão, mas tão estranhos, que nem brasileiros somos? Tsc, tsc... a boa intenção acabou me atingindo num duplo preconceito! Pois, para mim, é disso que se trata: desde que o mundo é mundo, existe o preconceito, cujo assunto rende muitas linhas e rios de tinta de discussões.

Segundo, a defesa que aqui proponho não procura responder na mesma medida, sobretudo porque retroalimentaria as diferenças nacionais de modo irracional. Eu até poderia ser bairrista e justificar com várias dimensões de nossa cultura, valorizando a nação norte-nordestina para além da pobreza e analfabetismo que tanto nos assola e que tanto ajuda a ratificar a visão estereotipada que foi construída histórica e culturalmente nos gerais do Brasil.

Como numa espécie de renovada Idade Média, com o perdão do trocadilho, vivemos uma Idade Mídia, cujo saber e olhar sobre a vida reproduz as trevas que se mantêm junto com certas ideias discriminatórias, preconceituosas e, por que não, racistas. Diante disso, o ambiente virtual torna permissível disseminações, anônimas ou corajosamente assinadas, ativadas por nossa pior parte humana, demasiadamente humana.

Essas coisas me põem a problematizar nossa ética diante de determinadas situações. Nós adoramos ser a favor ou contra alguma coisa, principalmente contra. Compomos o homem midieval, velado por avatares e nicknames, com uma postura que permanece ainda eugênica, higiênica e hipócrita.

Longe de ser politicamente correta ou moralista, penso que perdemos nosso respeito e solidariedade ao próximo. Isso é crítico. Será que nós, nordestinos, sudestinos, sulistas, paulistas ou tribalistas, somos tão melhores, uns em relação aos outros, que não aceitamos a orientação alheia à nossa? Vamos importar a dicotomia norte-americana de vencedores e perdedores?

Aceitar a vontade da maioria é um princípio democrático. Tal qual é imperativa a condescendência civilizada sobre a nossa condição amplamente diversa de culturas, sotaques, cores, sabores, músicas, religiosidades, sexualidades, entre outras. E quanto às nossas escolhas, independente dos argumentos econômicos ou político-sociais que podem subsidiar o entendimento sobre os resultados dessa eleição, fato é que elas foram de livre e espontânea vontade do povo, o qual majoritariamente representa seu relativo poder. Sendo assim, por essa brecha, no esteio do presidente estadunidense Barack Obama ("yes, we can") e de nossa futura presidenta Dilma Rousseff ("sim, a mulher pode"), aproveito para dizer que os nordestinos também podem!




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