Fim de ano é época de gastar o décimo. Tá, eu sei que todo mundo tem dívida pra acertar, mas sempre sobra aquelezinho para uma comprinha...
Pois bem, estava eu rodando pelo shopping com meus pais, que tinham vindo a Salvador, e minha mãe entrou numa loja de bijoux. Resolvi acompanhá-la para dar uma olhada nas "novidades" quando, mal eu estacionei frente a uns colares, uma atendente me abordou:
- Posso ajudar?
Refleti alguns segundos sobre a pergunta e respondi com outra:
- Em quê?
Silêncio. Constrangimento. Temi ter provocado nela alguma crise existencial como vendedora. Mas quem entrou em crise fui eu, que só estava olhando e, ao invés de dizer isso, resolvi mudar o roteiro clichê das vendas. Passaram-se alguns minutos críticos e eu, já mais calma, com a consciência pesada e tentando ser mais simpática, continuei:
- Desculpe te responder com essa indelicadeza; sei que fui um pouco grossa, mas é que... Em quê mesmo você pode me ajudar?
Ela fez uma cara de quem não estava entendendo aquilo tudo. Seria tão simples se eu tivesse dito apenas que só estava olhando. Ela voltaria ao que estava fazendo e pronto! Então, finalizei:
- Pode deixar que, se eu precisar, eu te chamo, tá? Obrigada pela atenção...
É que eu sempre fui encucada com essa coisa de abordagem comercial. Acho que seria bem melhor deixar o cliente livre e estar sempre a postos ao primeiro sinal de solicitação apontado por ele. Mas não. Basta você se posicionar em frente à vitrine ou mesmo observar algum produto, que logo vem um vendedor solícito, risonho e feliz para te ajudar. Ora, ora, quem ajuda somos nós; e quando compramos! No mais, é aquela mentirada toda de que "a roupa caiu superbem", que tudo está "super-na-moda" etc. Dá vontade de dizer: "And the Oscar goes to... vendedor Fulano!"
Birras minhas à parte, acabamos sendo simpáticas uma com a outra, trocamos alguns comentários, demos risadas e, no final, eu - que só estava olhando - levei um colar, um broche e uma bolsa caríssima. A gente reclama, mas abre o bolso! Ô, consumo sem jeito...
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